Restaurações adesivas em molares afetados por HMI: Ensaio Clínico Randomizado

Hipomineralização Molar-Incisivo (HMI) é um defeito qualitativo de esmalte dental que pode afetar de um a quatro primeiros molares permanentes, podendo estar associado aos incisivos permanentes (WEERHEIJM et al., 2001; WEERHEIJM et al., 2003). Clinicamente, o esmalte afetado por HMI apresenta opacidade demarcada com bordas bem definidas, cuja coloração varia entre branca, amarelo-acastanhada e marrom (WEERHEIJM et al., 2003). Além das opacidades, podem ser observadas perda de estrutura dentária associada à opacidade demarcada pré-existente, e também restaurações atípicas, assim definidas por apresentam desenho cavitário que difere daquele associado à lesão cariosa. (WEERHEIJM et al., 2003).

Devido as alterações estruturais no esmalte,os dentes afetados pelo defeito têm maior chance de desenvolver lesão cariosa (FRAGELLI et al., 2015; AMERICANO et al., 2016; KOSMA et al., 2016; NEGRE – BARBER et al., 2018). Além disso, crianças com HMI podem apresentar sensibilidade exacerbada e dor/desconforto de origem dentária aos estímulos físico-químico desde a erupção de dentes com HMI (JALEVIK e NORÉN, 2000; DA COSTA – SILVA et al., 2010; RAPOSO et al., 2019).

O tratamento da HMI é um atual desafio na Odontopediatria. O esmalte afetado possui maior conteúdo orgânico e menor conteúdo mineral, não permitindo adesão eficiente do material restaurador, provocando fraturas na restauração e infiltração (FAGRELL et al., 2010). Além disso, a redução das propriedades mecânicas do esmalte o torna mais susceptíveis às fraturas (JALEVIK e NORÉN, 2000; FAGRELL et al., 2010).

O objetivo deste ensaio clínico randomizado intitulado Adhesive restoration of molars affected by molar incisor hypomineralization: a randomized clinical trial, publicado em julho de 2020 na Clinical Oral Investigation foi avaliar a sobrevivência de restaurações diretas nos primeiros molares (PMP) afetados pela HMI seguindo 2 protocolos adesivos e seu impacto no autorrelado de dor dentária e na ansiedade Odontológica.

Participaram da pesquisa 35 pacientes com idade entre 7 e 16 anos que apresentaram PMP com HMI e necessidade de tratamento. Os PMPs foram randomizados em os dois grupos: grupo TE Total Etch (realização de condicionamento com ácido fosfórico 37%) e SE Self-Etch (sem condicionamento ácido prévio). Os FPMs eram restaurado com adesivo universal Ambar (FGM) e resina composta Bulk fill (Tetric-N Ceram, Ivoclar Vivadent) . A sobrevida das restaurações foi avaliada de acordo com o critério USPHS- modificado por um examinador cego no periodo de 1,6 e 12 meses após tratamento. A avaliação do autorrelato de dor foi feita considerando o dente antes e após a restauração, utilizando a Faces Pain Scale Revised (FPS-R)( HICKS et al., 2001) também no período de 1,6 e 12 meses. A ansiedade odontológica (AO) das crianças participantes do estudo foi avaliada através do Venham Picture Test (VPT) (VENHAM e GAULIN-KREMER, 1979) na primeira consulta antes da intervenção e na consulta de controle clínico de seis meses.As taxas de sobrevida foram analisadas pelo método Kaplan-Meier e o teste de log-rank. Testes não paramétricos compararam dor e ansiedade nos períodos de acompanhamento.

Um total de 64 FPMs foram restaurados (TE = 33; SE = 31). As taxas de sobrevivência foram de 96,9% (TE) e 96,7% (SE) após 1 mês, 90,5% (TE) e 80,6% (SE) após 6 meses, e 80,8% (TE) e 62,3% (SE) após 12 meses (p> 0,05), não sendo encontrada diferença estatística entre os protocolos retauradores. A ansiedade odontológica e o autorrelato de dor diminuiram em ambos os grupos, porém a diminuição do autorrelato de dor no grupo SE foi observada já no período de 1 mês, enquanto que no grupo TE foi considerada estatisticamente significativa somente após 6 meses.

Diante dos resultados obtidos pudemos concluir que os dois protocolos restauradores apresentaram longevidade semelhante, diminuindo os níveis de autorrelato de dor e ansiedade odontológica. O uso do adesivo universal pode ser apropriado para a restauração de dentes afetados por MIH, mas a sobrevida das restaurações pode ser maior na técnica de condicionamento ácido prévio, já que também foi obsercada redução a do autorrelato de do dentária e a ansiedade odontológica. Para a escolha do protocolo e material restaurador deve-se levar em conta o grau da HMI e o paciente como um todo.

 

Autoria: Tatiane Cardoso Zahn Rolim.

Referências
1-WEERHEIJM, K. L.; JÄLEVIK, B.; ALALUUSUA, S. Molar-Incisor Hypomineralisation.Caries Research, v. 35, n. 5, p. 390-1, Set-Out 2001.

2- WEERHEIJM, K. L. et al. Judgement criteria for Molar Incisor Hypomineralisation (MIH) in epidemiologic studies: a summary of the European meeting on MIH held in Athens, 2003.European Archives Paediatric Dentistry , v. 4, n. 3, p. 110-3, Set 2003.

3- FRAGELLI, C. M. B. et al. Longitudinal Evaluation of the Structural Integrity of Teeth Affected by Molar Incisor Hypomineralisation. Caries Research, n. 49, p. 378–383, Mai 2015.

4- AMERICANO, G. C. A. et al. A systematic review on the association between molar incisor hypomineralization and dental caries. International Journal Of Paediatric Dentistry, v. 27, n. 1, p. 11-21, Abr 2016.

5- KOSMA, I. et al. Molar incisor hypomineralisation (MIH): correlation with dental caries and dental fear. European Archives Paediatric Dentistry, v. 17, n. 2, p.123–129, Abr 2016.

6- NEGRE-BARBER, A. et al. Degree of severity of molar incisor hypomineralization and its relation to dental caries. Scientific Reports, v. 8, n. 1, Jan 2018.

7- JALEVIK, B.; NORÉN, J. G. Enamel hypomineralization of permanent first molars: a morphological study and survey of possible aetiological factors. International Journal Of Paediatric Dentistry, v. 10, n. 4, p. 278-89, Dez 2000.

8- da COSTA- SILVA, C.M. et al. Molar incisor hypomineralization: prevalence, severity and clinical consequences in Brazilian children. International Journal Of Paediatric Dentistry, v. 20, n. 6, p. 426-34, Nov 2010.

9- RAPOSO, F. et al. Prevalence of Hypersensitivity in Teeth Affected by Molar-Incisor Hypomineralization (MIH). Caries Research, v. 53, n.4, p. 424-430, Jan 2019.

10- FAGRELL, T. G. et al. Chemical, mechanical and morphological properties of hypomineralized enamel of permanent first molars. Acta Odontologica Scandinavica, v. 68, n. 4, p. 215-22, Jul 2010.
Fotos: Sequência da Restauração


FOTO 1 : após profilaxia, anestesia local, isolamento absoluto o esmalte afetado e cariado foi removido com alta e baixa rotação e instrumentos manuais. A profundidade da cavidade foi medida.

 

FOTO 2: nos PMP do grupo TE, foi apicado ácido fosfórico 37% ( por 30 segundos em esmalte e 15 segundos em dentina), lavado com água e seco com pape absorvende.

 

FOTO 3: aplicação do Adesivo Âmbar (FGM) segundo as recomendações do fabricante e fotopolimerizado com o Blupehase N (Ivoclar Vivadent) por 20 segundos no modo ”low”.

 

FOTO 4: Restauração com Resina Composta Tetric N Ceram ( Ivoclar Vivadent) em incremento único na cavidade e fotopilmerizada com o Blupehase N (Ivoclar Vivadent) por 20 segundos no modo “high”.

FOTO5: Pós operatorio imediato após ajuste oclusal, acabamento e polimento.

Os comentários estão encerrados.

Olá queridos associados e associadas! 

Informamos que os pagamentos e renovações de anuidades devem ser feitos no site da ABOPED
Segue o link para facilidade de todos https://aboped.org/associado