Nelson Lizier, diretor científico do Centro de Criogenia Brasil, afirma que cerca de 100 procedimentos do tipo são realizados por mês no laboratório
Por Juliana Malacarne – 26/08/2016 18h08 – atualizada em 30/08/2016 10h31
Depois de caírem, os dentes de leite costumam ir para a lata de lixo, para a caixa de lembranças da família ou para a fada do dente. Muitos pais, no entanto, têm optado por dar um destino diferente a eles, enviando-os para serem congelados e armazenados em clínicas de criogenia. A ideia é preservar as células-tronco presentes na parte interna do dente, chamada de polpa. Em outros países, essas células já são usadas na regeneração e reparação de tecidos dentais, como ocorre no tratamento de lábio leporino.
Mas não é só isso. A pesquisadora de aplicação de células-tronco na odontopediatria da Universidade de São Paulo (USP), Karla Rezende, explica que muitas possibilidades vêm sendo estudadas. “Essas células têm grande potencial de proliferação e já existem evidências de que o uso delas pode melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças degenerativas, como o Alzheimer e Mal de Parkinson. A expectativa é que dentro de 10 anos, alguns tratamentos pioneiros já estejam disponíveis”, explica Karla.
Nelson Lizier, diretor científico do Centro de Criogenia Brasil, afirma que cerca de 100 procedimentos do tipo são realizados por mês no laboratório. O serviço de congelamento da polpa dos dentes de leite, que começou a ser oferecido no país em 2013, custa em torno de R$ 2.600 e é preciso pagar uma taxa de manutenção anual de R$ 450.
A polpa fica congelada a -196ºC por tempo indeterminado. “Congelar as células da polpa, que têm características embrionárias, é um processo relativamente simples e sai mais barato do que fazer o mesmo com o cordão umbilical”, afirma Lizier. Para congelar o cordão, paga-se cerca de R$ 3300 mil. Apesar de os dentes adultos também conterem esse tipo de células, elas estão presentes em menor quantidade e já estão envelhecidas. A ciência estima que também será possível utilizá-las para tratamentos, mas o procedimento será mais complicado do que o usado para células jovens.
Quem quer congelar a polpa do dente de leite deve primeiro entrar em contato com um centro de tecnologia autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Quando o dente começar a ficar mole, a extração pode ser feita em casa ou por um dentista, mas é importante esterilizar bem o local. Depois de retirado, o dente deve ser colocado em um tubo e permanecer refrigerado até chegar ao laboratório, onde será mantido em nitrogênio líquido.
Os pais que escolhem congelar a polpa podem também doar o restante do dente para estudos. O professor José Carlos Imparato, coordenador do Banco de Dentes Humanos da Universidade de São Paulo, ressalta que essas doações são importantes para o treinamento de novos dentistas e para diversas pesquisas. “O dente é um órgão e a consciência que temos em relação ao seu descarte tem que mudar”, afirma Imparato. “Ao incentivar as crianças a doarem os dentes, além de contribuirmos para avanços da ciência, estamos mostrando às novas gerações a importância da doação de órgãos”, afirma.
Dentes com a polpa ainda presente, de adultos e até com cáries também são muito bem-vindos nos bancos. O único requisito é estarem conservados em soro fisiológico ou água destilada. Para quem tem interesse em doar, vale entrar em contato com a universidade pública mais próxima, onde costumam estar os bancos.